OCEPE - Orientações
Curriculares Educação Pré-Escolar
Áreas de
Conteúdo
ÁREA DE
EXPRESSÃO E COMUNICAÇÃO
A Área de
Expressão e Comunicação é a única em que se distinguem diferentes domínios, que
se incluem na mesma área por terem uma íntima relação entre si, por
constituírem formas de linguagem indispensáveis para a criança interagir com os
outros, exprimir os seus pensamentos e emoções de forma própria e criativa, dar
sentido e representar o mundo que a rodeia. Estas características levam a
considerá-la uma área básica, pois incide em aspetos essenciais de
desenvolvimento e aprendizagem, que permitem à criança apropriar-se de
instrumentos fundamentais para a aprendizagem noutras áreas, mas, também, para
continuar a aprender ao longo da vida. O Domínio da Linguagem Oral e Abordagem
à Escrita considera não só a íntima relação e a complementaridade entre estes
dois tipos de aprendizagem da língua, mas também a sua especificidade, levando
a apresentá-los separadamente, com a indicação das respetivas componentes.
Domínio da
Linguagem Oral e Abordagem à Escrita
A aprendizagem
da linguagem oral e escrita deve ser concebida como um processo de apropriação
contínuo que se começa a desenvolver muito precocemente e não somente quando
existe o ensino formal. As competências comunicativas vão-se estruturando em
função dos contactos, interações e experiências vivenciadas nos diversos
contextos de vida da criança. Estas competências são transversais e essenciais
à construção do conhecimento nas diferentes áreas e domínios, já que são
ferramentas essenciais para a troca, compreensão e apropriação da informação.
Por outro lado, esta transversalidade leva também a que todas as áreas
contribuam igualmente para a aquisição e o desenvolvimento da linguagem. A
referência conjunta à abordagem da linguagem oral e escrita pretende não só
acentuar a sua inter-relação como também a sua complementaridade, enquanto
instrumentos fundamentais de desenvolvimento e de aprendizagem. Contudo, de modo
a contemplar a especificidade de cada uma destas formas de linguagem, elas
serão apresentadas em separado:
- Comunicação oral
- Consciência linguística
- Funcionalidade da linguagem escrita e sua
utilização em contexto
- Identificação de convenções de escrita
- Prazer e motivação para ler e escrever
Linguagem
oral
O
desenvolvimento da linguagem oral tem uma importância fundamental na educação
pré-escolar. Sabe-se que a linguagem oral é central na comunicação com os
outros, na aprendizagem e na exploração e desenvolvimento do pensamento,
permitindo avanços cognitivos importantes. Qualquer que seja o domínio do
português oral com que as crianças chegam à educação pré-escolar, as suas
capacidades de compreensão e produção linguística deverão ser progressivamente
alargadas, através das interações com o/a educador/a, com as outras crianças e
com outros adultos. Nestas idades, esta sensibilização deverá ser situada no
contexto específico em que a criança se encontra, partindo das propostas,
interesses e preferências das crianças e adotando uma abordagem lúdica e
informal. Tendo em conta os princípios e as metodologias expressos nas
orientações curriculares, a referida sensibilização integra-se de forma natural
nas rotinas do quotidiano do jardim de infância e articula-se com as diferentes
áreas e domínios e com o ciclo seguinte. Um maior domínio da linguagem oral é
um objetivo fundamental da educação pré-escolar, cabendo ao/à educador/a criar
as condições para que as crianças aprendam. Entre estas, salienta-se a
necessidade de criar um clima de comunicação em que a linguagem do/a
educador/a, ou seja, a maneira como fala e se exprime, constitua um modelo para
a interação e a aprendizagem das crianças. As reformulações e questionamento
por parte do/a educador/a podem dar um importante contributo para a expansão do
vocabulário e o domínio de frases mais complexas.
Este tipo de
atividade prossegue na sua transição para o 1º ano. A capacidade de o/a
educador/a escutar cada criança, de valorizar a sua contribuição para o grupo,
de comunicar com cada uma e com o grupo, de modo a dar espaço a que cada uma
fale, e a fomentar o diálogo, facilita a expressão das crianças e o seu desejo
de comunicar e facilita a sua transição da família para a escola. Este
conhecimento das crianças mobilizado na utilização de muitas palavras, na
construção de um vocabulário alargado, na compreensão de questões, ordens,
mensagens, conversas, etc., centra-se essencialmente no significado da mensagem
oral, e constrói-se, muitas vezes, de forma natural. Quando as crianças
apresentam algum domínio dos aspetos associados à comunicação, vão também, paralelamente,
começando a desenvolver uma outra vertente, relacionada com a tomada de
consciência sobre a forma como a língua se estrutura e organiza, ou seja, a
tomar consciência dos seus aspetos formais (consciência linguística). Começam
assim a tomar a língua como objeto de reflexão, apercebendo-se gradualmente dos
vários elementos que a constituem, das suas relações, de convenções a eles
associados, de regularidades e /ou irregularidades e das suas especificidades. O
desenvolvimento da linguagem é complexo, devido à multiplicidade de aspetos e
fatores que estão envolvidos. Contudo, podemos considerar que existem duas
grandes componentes na aquisição da linguagem, que, embora com características
e especificidades subjacentes a cada uma, se inter-relacionam.
COMUNICAÇÃO
ORAL
É no clima de
comunicação criado numa primeira fase na família e de seguida pelo/a educador/a
que a criança irá dominando a linguagem, alargando o seu vocabulário,
construindo frases mais corretas e complexas, adquirindo um maior domínio da
expressão e da comunicação que lhe permitam formas mais elaboradas de
representação. O quotidiano da educação pré-escolar permitirá, por exemplo, que
as crianças vão utilizando adequadamente frases simples de diversas formas
(afirmativa e negativa) e tipos (interrogativa, exclamativa, etc.), bem como as
concordâncias de género, número, tempo, pessoa e lugar. A comunicação das
crianças com outros adultos da instituição e da comunidade, no jardim de
infância ou no exterior, são um outro meio de alargar as situações de
comunicação que levam a criança a apropriar-se progressivamente das diferentes
funções da linguagem e a adequar a sua comunicação a situações diversas. Cabe
ao/a educador/a alargar intencionalmente as situações de comunicação, em
diferentes contextos, com diversos interlocutores, conteúdos e intenções, que
permitam às crianças dominar progressivamente a comunicação como emissores e
como recetores.
Aprendizagens
a promover na educação pré-escolar:
·
Compreender mensagens orais em situações
diversas de comunicação.
·
Usar a linguagem oral em contexto, conseguindo
comunicar eficazmente de modo adequado à situação (produção e funcionalidade).
Estas
aprendizagens podem ser observadas, por exemplo, quando a criança:
·
Faz perguntas sobre novas palavras e usa novo
vocabulário.
·
Ouve os outros e responde adequadamente,
apresentando as suas ideias e saberes, tanto em situações de comunicação
individual como em grupo.
·
Elabora frases completas aumentando gradualmente
a sua complexidade.
·
Canta, reproduzindo de forma cada vez mais
correta as letras das canções.
·
Relata acontecimentos, mostrando progressão não
só na clareza do discurso como no respeito pela sequência dos acontecimentos.
·
Constrói frases com uma estrutura cada vez mais
complexa (coordenadas, subordinadas, afirmativas, negativas).
·
Usa naturalmente a linguagem com diferentes
propósitos e funções (contar histórias ou acontecimentos, fazer pedidos, dar ou
pedir informação, apresentar ou debater ideias, etc.).
O/A
educador/a promove estas aprendizagens quando, por exemplo:
·
Disponibiliza material que promove o
desenvolvimento da linguagem em diferentes espaços da sala (histórias em
formatos diversos, fantoches, gravador e/ou leitor de CDs, jogos, computador).
·
Faz pedidos e dá instruções cada vez mais
complexas e elaboradas.
·
Proporciona jogos que promovem o desenvolvimento
da linguagem (identificação de sons, vocabulário, mensagens).
·
Usa vocabulário rico e questiona as crianças
levando-as a estabelecer relações entre o seu conhecimento presente e novas
palavras (motosserra, astronauta, etc.).
·
Conta histórias, promove conversas sobre as
mesmas, cria oportunidades para as crianças contarem ou criarem as suas
próprias histórias.
·
Promove, no quotidiano, oportunidades de
comunicação criança-adulto e criança-criança, tanto em momentos informais como
mais estruturados (refeições, recreios, atividades na sala, comunicação em
grande ou pequeno grupo).
·
Incentiva cada criança a expor as suas ideias e
experiências, dando-lhe suporte para o fazer de modo cada vez mais elaborado,
considerando as especificidades de cada uma (crianças com dificuldades de
linguagem ou cuja língua materna não é o português, etc.).
·
Facilita o contacto com outras línguas e apoia
as crianças na identificação de algumas das suas especificidades (sonoridade,
significado de algumas palavras, semelhanças ou diferenças, etc.).
·
Utiliza e promove o uso de linguagem ajustada a
funções específicas (formulações de uma pergunta, de uma narrativa, de um
poema, de uma ordem).
Consciência
linguística
As crianças
envolvem-se frequentemente em situações que implicam uma exploração lúdica da
linguagem, demonstrando prazer em lidar com as palavras, inventar sons, e
descobrir as suas relações. As rimas, as lengalengas, os trava-línguas e as
adivinhas são aspetos da tradição cultural portuguesa que estão frequentemente
presentes nas salas e no dia a dia das crianças e são meios de trabalhar a
consciência linguística, em contextos de educação de infância. Estas consciência linguística vai transbordar
para o 1º ano de escolaridade.
A poesia, como
forma literária, constitui também um meio de descoberta e de tomada de
consciência da língua, para além de outros contributos como, por exemplo, a
sensibilização estética. Estes processos levam a criança a níveis de análise
diferenciados que podem passar pela estrutura das frases, pela consciência das
palavras enquanto unidades arbitrárias e enquanto elementos que as constituem,
chegando a segmentos sonoros menores, como as sílabas ou mesmo os fonemas.
Podem
considerar-se, na educação pré-escolar, três dimensões, na consciência
linguística, mesmo que em estado emergente: consciência fonológica, consciência
da palavra, consciência sintática. Todos estes aspetos são consolidados no 1º
ciclo na aquisição da leitura e escrita.
A consciência
fonológica refere-se à capacidade para identificar e manipular elementos
sonoros de tamanhos diferenciados, que integram as palavras (sílabas, unidades
intrassilábicas e fonemas). A
consciência fonológica está também relacionada com a aprendizagem da leitura,
podendo considerar-se que esta relação é recíproca e interativa. Normalmente,
as crianças em idade pré-escolar conseguem identificar e manipular as sílabas
com alguma facilidade. Contudo, processos de identificação, análise ou manipulação
de fonemas, por não serem unidades percetivamente salientes, são mais difíceis
e tardios, atingindo maior desenvolvimento em idade escolar, pois estão muito
associados à aprendizagem da leitura.
A consciência
de palavra refere-se à capacidade de compreensão da palavra enquanto elemento
constitutivo de uma frase. Esta tomada de consciência verifica-se quando, por
exemplo, a criança isola e identifica quantas palavras constituem uma frase ou
compreende que a palavra é diferente do seu referente (trata-se de um rótulo
fónico convencional), ou ainda, quando, numa frase, substitui uma palavra por
outra. Em fases iniciais, as crianças só identificam como palavras as que têm
significado para elas (nomes, verbos), só posteriormente consideram os outros
tipos (artigos, preposições).
A consciência
sintática prende-se com a compreensão das regras da organização gramatical das
frases, conduzindo à utilização e controlo dessas regras. Esta consciência será
mais efetiva no 1º ciclo, no entanto o processo da sua compreensão inicia-se no
pré-escolar.
Aprendizagens
a promover:
· Tomar consciência gradual sobre diferentes
segmentos orais que constituem as palavras (Consciência Fonológica).
·
Identificar diferentes palavras numa frase
(Consciência da Palavra).
· Identificar se uma frase está correta ou
incorreta e eventualmente corrigi-la, explicitando as razões dessa correção
(Consciência Sintática).
Estas
aprendizagens podem ser observadas, por exemplo, quando a criança:
- Identifica o
número de sílabas de uma palavra.
- Descobre e
refere palavras que acabam ou começam da mesma forma.
- Isola ou conta
palavras de uma frase.
- Suprime ou
substitui alguma(s) palavra(s) numa frase, atribuindo-lhe um novo sentido ou
formulando novas frases.
- Identifica uma
frase cuja estrutura gramatical não está correta.
O/A
educador/a promove estas aprendizagens quando, por exemplo:
- Cria oportunidades de jogo para que as crianças brinquem com rimas,
emparelhamento de sons, reconstrução de palavras a partir de sílabas ou sons.
- Explora
situações em que há repetições de palavras ou sons, através de histórias,
conversas, canções, etc.
- Proporciona
ocasiões para a criança ouvir, criar e dizer poesia, trava-línguas e cantar
canções.
- Usa situações
lúdicas de troca de palavras numa frase e promove a reflexão sobre o seu
resultado.
- Chama a atenção
das crianças para diferentes tipos de unidades sonoras que integram as palavras
(sílabas semelhantes, fonemas iniciais, rimas, etc.).
- Proporciona
ocasiões para as crianças pensarem sobre a adequação da estrutura de uma frase
face ao seu significado.
Abordagem à
escrita
Não há hoje em
dia crianças que não contactem com o código escrito e que, por isso, ao
entrarem para a educação pré-escolar não tenham já algumas ideias sobre a
escrita. Assim, há que tirar partido do que a criança já sabe, permitindo-lhe
contactar e utilizar a leitura e a escrita com diferentes finalidades. Não se
trata de uma introdução formal e "clássica", mas de facilitar a emergência
da linguagem escrita através do contacto e uso da leitura e da escrita, em
situações reais e funcionais associadas ao quotidiano da criança. Esta
abordagem situa-se numa perspetiva de literacia, enquanto competência global
para o uso da linguagem escrita, que implica utilizar e saber para que serve a
leitura e a escrita, mesmo sem saber ler e escrever formalmente. O contacto com
diferentes tipos de texto manuscrito e impresso (narrativas, listagens,
descrições, informações, etc.), o reconhecimento de diferentes formas que
correspondem a letras, a identificação de algumas palavras ou de pequenas
frases permitem uma apropriação gradual da especificidade da escrita não só ao
nível das suas convenções, como da sua utilidade. Neste sentido, há que ter
presente, no jardim de infância, que sendo uma das funções da linguagem escrita
dar prazer e desenvolver a sensibilidade estética, partilhar sentimentos e
emoções, sonhos e fantasias, este é também um meio de informação, de
transmissão do saber e da cultura, um instrumento para planificar e representar
a realização de projetos e atividades.
O contacto e o
recurso a bibliotecas podem também começar nesta idade, se as crianças tiveram
oportunidade de utilizar, explorar e compreender a necessidade de as consultar
e de as utilizar como espaços de lazer e de cultura. Criam-se assim bases para
o desenvolvimento de hábitos de leitura e do gosto pela leitura e pela escrita.
Funcionalidade
da linguagem escrita e sua utilização em contexto
É evidente a
importância da apropriação da funcionalidade da escrita pois, sem saber para
que serve nem em que circunstâncias e com que objetivos se pode usar, a criança
não se envolverá na sua exploração, compreensão e utilização. Para além disso,
a investigação tem demonstrado que o facto de as crianças terem algum
conhecimento e compreensão sobre as funções da leitura e da escrita, antes de
iniciarem a escolaridade obrigatória, parece facilitar a aprendizagem,
refletindo-se no seu desempenho. A retaguarda familiar é fundamental em termos
de abordagem à leitura e à escrita.
Atividades a
desenvolver:
Neste sentido,
registar o que as crianças dizem e contam, as regras debatidas em conjunto, o
que se pretende fazer ou o que se fez, reler e aperfeiçoar os textos elaborados
em grupo, uma carta, uma mensagem ou uma receita são meios de abordar a escrita
e a sua funcionalidade. Estas são formas de escrita que têm formatos diferentes
porque correspondem a intenções diversas. Cabe assim ao/à educador/a
proporcionar o contacto com diversos tipos de texto escrito que levem a criança
a compreender a necessidade e as funções da escrita, favorecendo também a
emergência dos conhecimentos sobre o código escrito e as suas convenções. A
apropriação das funções da leitura e da escrita vai-se processando
gradualmente, em contexto e através do uso, dando-se continuidade ao processo
na sua transição para a escolaridade obrigatória.
A utilização de
meios informáticos constitui também um recurso para o acesso a diferentes tipos
de texto e informações, para comunicar e utilizar a linguagem escrita.
Aprendizagens
a promover:
·
Identificar funções no uso da leitura e da
escrita.
·
Usar a leitura e a escrita com diferentes
funcionalidades nas atividades, rotinas e interações com outros.
Estas
aprendizagens podem ser observadas, por exemplo, quando a criança:
·
Refere razões e expressa vontade para querer
aprender a ler e a escrever.
·
Identifica funções específicas para o uso que
faz ou poderá vir a fazer da escrita ou da leitura (lúdica, informativa,
comunicativa, mnemónica, identificativa, etc.).
·
Associa diferentes funções a suportes de escrita
variados presentes nos seus contextos, usando-os com essas funcionalidades
(livro de receitas para cozinhar, computador para pesquisar ou registar
informação, lista de material necessário, etc.).
·
Utiliza e/ou sugere a utilização da linguagem escrita
no seu dia a dia, em tarefas diversas, com funções variadas, quer solicitando o
apoio de um adulto quer de modo autónomo, mesmo sem saber ler e escrever.
·
Pede aos adultos que lhe leiam ou escrevam numa
situação concreta, para responder a uma necessidade.
·
Escreve, convencionalmente ou não, palavras,
pseudopalavras ou pequenas frases, nas suas brincadeiras, explorações e/ou
interações com os outros.
·
Usa o livro adequadamente e distingue diferentes
tipos de livros consoante as suas funcionalidades.
O/A
educador/a promove estas aprendizagens quando, por exemplo:
·
Disponibiliza uma variedade de textos e tipos de
escrita, integrando-os nas vivências quotidianas do grupo.
·
Proporciona o contacto com diversos tipos de
textos escritos que levem a criança a compreender a necessidade e as funções da
escrita, por exemplo:
·
Usando diversas formas de utilização da escrita
(realização de cartazes informativos construídos e ilustrados com as crianças,
escrita em conjunto de cartas com diversas finalidades e para diferentes
destinatários, etc.).
·
Lendo e falando sobre as notícias do jornal e da
televisão e escrevendo notícias relatadas pelas crianças, de forma a levá-las a
perceberem e a utilizarem a função informativa da linguagem escrita e a
compreenderem as especificidades da estrutura deste tipo de texto.
·
Usa situações do quotidiano para proporcionar um
contacto funcional com o escrito, como, tais como:
·
Procura com as crianças informações em livros
para um projeto que estão a desenvolver.
·
Quando passeia na rua, usa mapas e lê nomes de
ruas ou indicações de placas com e para as crianças, de modo a que estas se
apercebam do seu conteúdo e importância.
·
Lê receitas para as crianças quando estão a
cozinhar, a fazer bolos, etc.
·
Envolve as crianças na escrita de avisos e
mensagens para as famílias (visitas de estudo, atividades, acontecimentos,
etc.).
·
Afixa e lê para as crianças a ementa da semana.
·
Lê e escreve com e para as crianças, utilizando
diferentes tipos de texto, ilustrando assim como se pode usar a leitura e a
escrita.
·
Cria oportunidades para a criança
"imitar" a escrita e a leitura da vida corrente, através da
introdução de material diversificado de leitura e de escrita em diferentes
áreas da sala.
·
Está atento às situações de uso e exploração da
linguagem escrita que ocorrem nas brincadeiras das crianças e mobiliza-as de
forma intencional.
·
Envolve as famílias, incentivando o uso da
leitura e escrita, em conjunto com as crianças, em situações funcionais do
quotidiano das mesmas (idas às compras, ler o texto das embalagens, etc.).
Identificação
de convenções da escrita
Vivendo num
meio em que contactam com a linguagem escrita, as crianças desde muito cedo
sabem distinguir a escrita do desenho e, mais tarde, sabem também que uma série
de letras iguais não forma uma palavra, começando a tentar imitar a escrita e a
reproduzir o formato do texto escrito. Não podemos esquecer que o desenho é
também uma forma de escrita e que os dois meios de expressão e comunicação
surgem muitas vezes associados, completando-se mutuamente. O desenho de um
objeto pode substituir uma palavra, uma série de desenhos permite
"narrar" uma história ou representar os momentos de um acontecimento.
O desenho serve também, muitas vezes, de suporte ao processo de emergência da
escrita, levando a que as crianças, em determinadas etapas, considerem que a
escrita tem características do código icónico (associam o tamanho da palavra ao
tamanho do objeto, desconhecem a linearidade e a literalidade da escrita,
etc.). Neste processo emergente de aprendizagem da escrita, as primeiras
imitações que a criança faz do código escrito tornam-se progressivamente mais
próximas do modelo, podendo notar-se tentativas de imitação de letras e até a
diferenciação de sílabas. Começando a perceber as normas da codificação
escrita, a criança vai desejar reproduzir algumas palavras (o seu nome, o nome
dos outros, palavras e/ou frases que o/a educador/a escreve, etiquetas, etc.).
Aprender a escrever o seu nome tem um sentido afetivo para a criança,
permitindo-lhe fazer comparações entre letras que se repetem noutras palavras e
aperceber-se de que o seu nome se escreve sempre da mesma maneira.
A atitude do/a
educador/a e o ambiente que é criado devem ser facilitadores de uma
familiarização com o código escrito. Neste sentido, as tentativas de escrita,
mesmo que não conseguidas, deverão ser valorizadas e incentivadas, pois só
assim as crianças poderão passar pelas diferentes fases inerentes à apropriação
do código escrito. Na leitura de uma história, o/a educador/a pode partilhar
com as crianças as suas estratégias de leitura, por exemplo, ler o título para
que as crianças possam dizer do que trata a história, propor que prevejam o que
vai acontecer a seguir, identificar os nomes e as atividades das personagens,
apontar enquanto lê, mostrar palavras e realçar a semelhança entre elas. Estas
estratégias, para além de promoverem a compreensão da funcionalidade e estrutura
organizativa do texto, facilitarão também a identificação e apropriação gradual
das especificidades inerentes às convenções do código escrito.
O registo
escrito com diferentes propósitos (mensagens, notícias, listagens, opiniões,
etc.) também é uma estratégia importante para a compreensão do código escrito.
Deste modo, as crianças poderão compreender que o que se diz se pode escrever,
que a escrita permite recordar o dito e o vivido, mas constitui um código com
regras próprias.
Aprendizagens
a promover:
·
Reconhecer letras e aperceber-se da sua
organização em palavras.
·
Aperceber-se do sentido direcional da escrita.
·
Estabelecer relações entre a escrita e a
mensagem oral.
Estas
aprendizagens podem ser observadas, por exemplo, quando a criança:
·
Diferencia escrita de desenho (código icónico de
código escrito) e, quando quer escrever, usa garatujas, formas tipo letra e/ou
letras na sua escrita.
·
Identifica letras, conseguindo reproduzi-las de
modo cada vez mais aproximado nas suas tentativas de escrita e sabe o nome de
algumas delas.
·
Nas suas tentativas de leitura, aponta para o
texto escrito com o dedo, seguindo a orientação da escrita e fazendo alguma
correspondência entre a emissão oral e o escrito.
·
Partilha atividades de escrita com os pares
comparando-as e discutindo acerca das suas semelhanças e diferenças.
O/A
educador/a promove estas aprendizagens quando, por exemplo:
·
Organiza o espaço da sala com diversidade de
materiais a que as crianças possam recorrer para as explorações e usos da linguagem
escrita (papéis, lápis, canetas, cadernos, agendas, jornais, revistas, livros,
panfletos, etc.).
·
Disponibiliza e promove a exploração de jogos e
materiais focados para a identificação e/ou uso de letras e palavras.
·
Questiona a criança sobre o que escreveu e
leva-a a explicitar estratégias e procedimentos.
·
Lê e escreve perante a criança, realçando a
relação entre a escrita e a mensagem oral.
·
Proporciona oportunidades diversificadas, mais
ou menos estruturadas, de exploração da leitura e da escrita, integradas nas
vivências do grupo.
·
Apoia e incentiva as crianças nas suas
tentativas de escrita.
·
Escreve com e para as crianças, solicitando a
sua colaboração e desafiando-as a pensar e a refletir sobre as características
e convenções da escrita.
Prazer e
motivação para ler e escrever
Todos nós, para
nos envolvermos numa qualquer atividade, temos que ter motivos e razões para o
fazer. Esses motivos podem ser muito diferenciados, passando pelos benefícios,
diretos ou que daí podemos retirar, pela satisfação que a situação nos
proporciona ou pelo sentimento de realização e competência.
Aprendizagens
a promover:
·
Compreender que a leitura e a escrita são
atividades que proporcionam prazer e satisfação.
·
Estabelecer razões pessoais para se envolver com
a leitura e a escrita, associadas ao seu valor e importância.
·
Sentir-se competente e capaz de usar a leitura e
a escrita, mesmo que em formas muito iniciais e não convencionais.
Estas
aprendizagens podem ser observadas, por exemplo, quando a criança:
·
Escolhe realizar atividades de leitura e/ou
escrita, manifestando concentração, prazer e satisfação no desenrolar das
mesmas.
·
Ouve atentamente histórias, rimas, poesias e
outros textos, mostrando prazer e satisfação.
·
Reflete e partilha ideias sobre o valor e a
importância da linguagem escrita e indica razões pessoais para a sua
utilização.
·
Revela satisfação pelas aprendizagens e
conquistas que vai fazendo na compreensão e utilização da linguagem escrita.
·
Mostra entusiasmo em partilhar com a família as
leituras que vai fazendo no jardim de infância.
·
Usa a leitura e a escrita, mesmo que de modo não
convencional, em situações cada vez mais complexas, mostrando vontade de
aprender e de responder a novos desafios.
O/A
educador/a promove estas aprendizagens quando, por exemplo:
·
Disponibiliza livros e material de leitura de
qualidade, tanto no seu conteúdo como do ponto de vista estético.
·
Cria ambientes positivos e ricos em
oportunidades de interação com a leitura e a escrita que facilitem a
concentração e o envolvimento.
·
Proporciona às crianças oportunidades de escolha
sobre o que querem ler ou escrever.
·
Integra regularmente a leitura e a escrita em
atividades significativas para as crianças partindo dos seus interesses,
iniciativas e vivências.
·
Identifica e partilha os progressos que cada
criança vai fazendo, de modo a que esta se sinta desafiada a continuar as suas
explorações e tentativas de uso da leitura e da escrita.
·
Envolve as famílias nas práticas de leitura
desenvolvidas no jardim de infância, incentivando a sua colaboração.
QUADRO-SÍNTESE
Sugestões de
reflexão:
1. Na sua
prática, contempla a abordagem a diferentes aspetos da consciência linguística?
2. Que
atividades e jogos usa para promover o desenvolvimento de níveis cada vez mais
elaborados de consciência fonológica?
3. Em
conversas, momentos de leitura e outras situações de comunicação oral, leva as
crianças a refletirem sobre as palavras (significado, sinónimos, antónimos,
etc.)?
4. Quais as
funções da leitura e da escrita que mais utiliza quando lê ou escreve na
presença das crianças?
5. Incentiva as
crianças a usarem a leitura e/ou escrita, mesmo não sabendo ainda escrever
convencionalmente?
Conteúdo disponível em: https://youtu.be/Ps8dYQ_uDEM
Referências
Continuidade
Educativa e Transições | OCEP
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